Autor(a): André Soares
Porquê biocurativos?
A pele é a primeira linha de defesa contra microorganismos, sendo imprescindível sua integridade para a proteção contra infecções e doenças. Assim, o tratamento de grandes feridas e de feridas crônicas é de suma importância para a preservação da saúde humana de curto ou longo prazo. Entretanto, barreiras impostas pelo sistema imune do organismo ou até a deficiência de certos mecanismos de cicatrização impedem esse feito, trazendo transtornos ao paciente e um fardo ao sistema de saúde em razão dos altos custos de tratamento e manutenção. Nessa perspectiva, é essencial a descoberta de novos recursos e tecnologias para suprir tal necessidade, se destacando os biocurativos, como uma tecnologia inovadora que promete salvar várias vidas.
O que são?
Os biocurativos são curativos à base de células que auxiliam na regeneração do tecido do organismo. Nesse sentido, eles são feitos à base de um hidrogel sob o qual células são cultivadas, combinando diversas camadas de biomateriais e células com estruturas 3D pré-projetadas. Em relação a esses hidrogéis, há 3 categorias gerais de composição, são elas:
- Membranas amnióticas e placentárias (desidratadas ou criopreservados)
- Células alogênicas da pele humana semeadas em colágeno tipo 1 bovino
- Adesivo de fibrina alogênico com plaquetas e leucócitos
Nessa perspectiva, esses hidrogéis se tornam biotintas em consequência da quantidade de recursos biológicos que possuem em sua composição que não se limitam somente às categorias gerais. Um desses recursos é a mistura com matriz adiposa descelularizada de porcina (composto também chamado de pDAM2 que é rico em proteínas, como colágenos, proteoglicanos, glicoproteínas e proteínas afiliadas), alginato com plaquetas, fatores de crescimento plasmático e células dérmicas humanas, que, em conjunto, melhoram a adesão celular e modulam o comportamento celular, podendo imitar as interações da biotinta com o hospedeiro e com o ambiente exterior, melhorando os processos de cura e proteção.
Em relação à sua fabricação, geralmente são realizados pelo método de extrusão, o qual se baseia em 2 modos:
- Extrusão de materiais semi-sólidos ou semi-fundidos à temperatura ambiente ou elevada
- Extrusão de materiais termoplásticos fundido em forma de filamento.
Independente do modo, basicamente eles funcionam com base do material sendo extrudado do bocal da impressora e espalhado em camadas subsequentes na superfície da plataforma de construção. Entretanto, a extrusão de materiais termoplásticos fundidos requer um cuidado a mais em relação à composição e fabricação, pois necessitam da adição de determinados compostos e realização de técnicas para a confecção de filamentos.
Esses curativos realmente funcionam?
Em razão de serem curativos dinâmicos e não estáticos como os convencionais, eles proporcionam uma interação com o hospedeiro e com o ambiente externo. Essa interação proporciona uma melhor adaptação da ferida e uma melhora na eficiência do processo de cura.
A imagem acima demonstra 2 biotintas (pDAM2:PRP/ALG e pDAM2:PPP/ALG), os quais obtiveram alta reprodutibilidade celular em razão da uniformidade do filamento durante a extrusão e manutenção da estabilidade do construto. Ademais, foi observado um número muito baixo de células mortas em todos os curativos testados, dando ênfase ao processo de crescimento celular. Assim, esses estudos in vitro demonstram que as biotintas permitem a adesão e crescimento celular em um microambiente 3D ideal.
Outro ponto importante a ser mencionado, é que o tecido cicatricial promovido pela adesão a esses curativos não apresenta mudanças significativas fisiológicas e morfológicas em relação ao tecido fisiológico do hospedeiro, não possuindo assim, perdas funcionais quanto ao tecido promovido.
Conclusão
A formulação das biotintas a partir de hidrogéis e compostos celulares são passíveis de fabricação e possuem excelente viabilidade celular, sendo assim, uma biotecnologia promissora para o futuro. Diante de tamanha revolução, espera-se que no futuro que essas técnicas de bioimpressão se tornem rotina em ambientes hospitalares, promovendo não apenas curativos, mas também diferentes tipos de tecido humanos, diminuindo as filas de transplante, promovendo um melhor bem estar e diminuindo os gastos em saúde.
Referências:
Del Amo C, Fernández-San Argimiro X, Cascajo-Castresana M, Perez-Valle A, Madarieta I, Olalde B, Andia I. Wound-Microenvironment Engineering through Advanced-Dressing Bioprinting. Int J Mol Sci. 2022 Mar 4;23(5):2836. doi: 10.3390/ijms23052836. PMID: 35269978; PMCID: PMC8911091.
Jamróz W, Szafraniec J, Kurek M, Jachowicz R. 3D Printing in Pharmaceutical and Medical Applications – Recent Achievements and Challenges. Pharm Res. 2018 Jul 11;35(9):176. doi: 10.1007/s11095-018-2454-x. PMID: 29998405; PMCID: PMC6061505.